sábado, 17 de janeiro de 2015

A Tribo Perdida - Capítulo 12

Kath

Todos responderam a pergunta de Laure com um "sim". Penny pediu que eu me retirasse da sala, pelo que ela disse, era um assunto somente para os líderes. Eu assenti e saí rapidamente. Eu não havia percebido ainda mas a entrada do Senado era muito bonita. Haviam quatro cadeiras azuis, posicionadas à direita, arrumadas da maneira certa para formarem uma meia lua. Um pouco afastada da meia lua de cadeiras, via-se uma mesa de centro de vidro. Em cima da mesa havia um pequeno vaso de planta, com uma linda orquídea. Ao lado da flor haviam duas pequenas xícaras brancas, e um bule de chá, também branco. Tudo dentro de uma bandeja prateada. Na parede á esquerda encontrava-se um quadro, a pintura mostrava o mar e o céu. Uma bela mistura de azul e branco. A única coisa que achei estranho, foi não ter visto o nome do pintor, ou pintora, no quadro. À alguns metros da parede, um sofá de couro branco. Ele tinha lugar para 10 pessoas se sentarem. Era muito grande, também era um pouco oval, como que também formando uma meia-lua. Ele terminava o circulo que as cadeiras iniciavam. Todos as paredes eram totalmente brancas. Encostado na parede da direita se encontrava um criado mudo azul. Nele haviam duas canetas e um bloco de papel. As pilastras brancas davam um ar de antiguidade e elegância. Eu estava entre as duas portas. A da minha frente, de entrada, e a que estava atrás de mim, a sala de reuniões. Eu me perguntava porque eles não faziam a reunião ali, na entrada. Era um lugar super confortável, e com certeza caberia todos sem problema. Talvez fosse segurança... Como eu não tinha nada para fazer, peguei um papel do bloco e uma caneta. Sentei-me no sofá e tentei me concentrar. Com um pouco de imaginação eu poderia desenhar alguma coisa. Tentei pensar em algo. Lembrei-me do coelho que uma vez aparecera em minha casa. Ele era cinza e tinha olhos vermelhos. Como eu não poderia colorir tentei fazer pelo menos o desenho. Comecei pelo corpo, seguindo para as pernas, a cabeça e as orelhas. Alguém pôs a mão em meu ombro.

- Oi

- Uaiiiiii!!!!!!!! - Eu dei um pulo e acabei riscando o desenho sem querer.

-Ei! Ei! Calma! - Jack levantou os braços, como fazem as pessoas quando se rendem.

Bufei e olhei para ele, irritada.

- Nunca mais me assuste desse jeito!!!!!!

- Desculpe, desculpe! Não pensei que estivesse tao concentrada assim. Afinal, o que está fazendo?

Mostrei o desenho para ele. Agora, o que deveria ser a perna era um risco torto, por culpa daquela criatura. Ele o pegou e analisou por alguns segundos. Enfim ele me devolveu o papel.

- Você é boa. Podia pensar em entrar para a minha Tribo. Seria bem vinda lá.

- Obrigada, mas... É o treinamento que define, não?

- Sim, mas normalmente, quando algum novato escolhe para qual Tribo quer ir antes de conseguir o resultado do treinamento, ele ou ela pode fazer um teste. E esse teste vai variar de acordo com a Tribo que você escolher. Se você passar, pode entrar na tribo.

- Ah... Entendi. Ei! E o que você está fazendo? Não devia estar na reunião?

- Devia... Mas muitas vezes minhas gracinhas quase me matam - Ele mostra a língua

- Comigo não são as piadas... - Faço uma cara de "opa! Problema!" Ele ri.

- E então, senhor das piadas, que bobeira fez dessa vez?

- Ei! Como assim bobeira?

- Você foi expulso da reunião por causa disso!

- O.k. Você ganhou. - Ele revirou os olhos. - Pra começar, Penny estava falando sobre... - Ele parou - Epa. Você não sabe... Desculpe, não posso contar. Isso envolve um assunto delicado...

- Deixa eu ver... Envolve o assunto de alguma coisa ruim que está prestes a acontecer e é Leo que tem que fazer sei-lá-o-que, por sei-lá-que-motivo? O assunto que fez você e Leo brigarem mais cedo? O assunto que anda deixando Leo enfurecido e irritado? Realmente, parece bem delicado para mim.

- Olha, você não entenderia. É um caso difícil para Leo. Você acha que gosto de vê-lo assim? Também é duro para mim. Tanto quanto é para Penny, e tanto quanto é para Laure. O único que parece não se importar é Kai, mas sei que ele também esta preocupado. Não preocupado com Leo, mas com o que está por vir. É um caso difícil para todos nós, e nada vai mudar isso. - ele parecia irritado.

- Vocês podiam tentar pelo menos!

- Tentar o que?

- Tentar mudar isso! Você acabou de dizer que nada vai mudar isso, mas já tentaram?

Ele ficou calado. Parecia estar pensando no que eu havia dito.

- Nada vai mudar isso. - Ele falou calmamente. Logo se levantou do sofá e seguiu em direção à um corredor, me deixando sozinha. Fiquei me perguntando que assunto seria esse. Eu teria que falar com Leo, ou minha cabeça explodiria. A porta atrás de mim se abriu. Kai veio andando em minha direção. Ele usava uma camisa vermelha, junto de uma calça que aparentava ser de couro. Ele estava sorrindo.

- Ei Katherine, parabéns!

- Parabéns? Parabéns pelo que?

- Pela lição que você deu na Laure. Ela ficou sem palavras!

- Não gosto que riam de mim.

- Rir de você discretamente enquanto todos acreditam que ela é alguém respeitável... Acho que ela merecia mais. Você é boazinha demais, sabia? Se fosse eu, ela teria se arrependido de ter nascido!

Eu sabia que não devia, mas sorri. Ele havia visto o que ela fazia comigo e me dava razão! Finalmente alguém! Mas de qualquer forma eu não podia me animar muito, pois eu querendo ou não, quem estava parado ao meu lado continuava sendo o cara que não se importava com nada nem ninguém. Ele só devia estar dizendo isso por não gostar de Laure, mas, de qualquer forma, era bom saber que alguém, mesmo sendo ele, me dava razão. Ele me encarou.

- Ei, você viu Jack por aí? Penny me pediu para chamá-lo.

- Oooopa!!! Espera um pouco!! Desde quando você obedece Penny?

- Não obedeço.

- Ah é? Então porque esta obedecendo nesse momento?

- Não estou obedecendo! Vim porque eu quis! Se ela me pedisse e eu não quisesse ela não teria a mínima chance de me fazer vir aqui! - Ele parecia irritado

- Ei! Tudo bem! Já parei! Já parei! - Peguei mais uma folha de papel no bloco e balancei-a em sinal de rendição. Uma bandeira branca improvisada.

- Você viu Jack ou não?

- Vi sim. Ele foi para aquele corredor. - apontei para o lugar onde o vi pela última vez. Kai não disse nada, apenas seguiu para o corredor, e eu fiquei só novamente. As duas pessoas que tinham passado ali e conversado comigo saíram irritadas...
Realmente, eu sou muito simpática.

sábado, 10 de janeiro de 2015

A Tribo Perdida - Capítulo 11

Katherine

Fiquei realmente muito preocupada naquela noite. Primeiramente por causa da reunião que eu teria de ir agora. Depois, por não saber do que Jack e Penny estavam falando. O que Leo tinha que fazer? Porque eu não podia saber, se falariam disso na reunião? Eu estava muito confusa. Havia passado a tarde no treinamento, com Leo, e ele não pareceu nem um pouco a vontade, como estava antes. Ele parecia tenso e com raiva. E eu nem sabia oq o estava deixando assim. Sendo assim, sem chance de eu poder tentar ajuda-lo. Mas, pelo menos eu consegui aprender a mirar. Minhas facas agora acertavam o alvo, e não o braço ou a cabeça das pessoas. Ele também fez algumas perguntas sobre minha vida antes de ir parar naquele lugar. Nada de muito interessante. Ele me explicou um pouco sobre cada Tribo. Disse que era somente o básico, o resto eu aprenderia depois. A tarde foi tranquila, oq me preocupou foi oq ele disse quando finalizamos o treinamento. "Prepare-se para a reunião. Não será como qualquer outra em que você já foi. As perguntas que te fiz... Elas serão importantes." Eu estava preparada para tudo. Menos para um interrogatório.

- Você esta bem? - Leo sussurrou quando entravamos no Senado.

- Estaria melhor se me dissesse porque estou aqui. - sussurro de volta.

- Você saberá logo.

- E... Você esta bem? Estava tenso mais cedo.

- Estou bem.

Ele parou em frente a uma pesada porta branca. Olhou para mim.

- Boa Sorte. - Ele abriu a porta e eu me vi diante de todos os líderes. Eles estavam sentados atrás de uma grande mesa branca, em forma de U. Olhei em volta, nervosa. Meus olhos se encontraram com os de quem eu menos queria ver naquele momento. Kai sorriu. Logo desviei o olhar, fingindo procurar algo no bolso. Leo agora tinha um ar profissional. Ele andou até um canto, onde haviam duas cadeiras vazias. Eu o segui. Leo se sentou em uma das cadeiras. Cada cadeira tinha pelo menos meio metro de distância da outra. Eu fiquei na cadeira da ponta em que o U da mesa terminava. Laure estava na outra ponta. Ao lado dela estava Jack, sorridente. Ao me ver acenou com entusiasmo. Mas logo ficou sério ao ver que Leo estava sentado do meu lado. Ao lado de Jack estava Penny. Ela havia passado uma mecha de cabelo para trás, cobrindo o corte que ela recebeu como presente meu. Lembrei-me então do braço de Leo e olhei para ele. Ele usava um casaco marrom, por cima de uma blusa branca. Observei todos. Kai mechia no anel que havia ganhado daquele tal garoto, Samu, ou seja lá qual for o nome dele. Penny mechia em alguns papeis. Laure e Jack conversavam. Leo parecia perdido em seus pensamentos. Ele batia os dedos na mesa. Enfim Penny tomou a palavra.

- Silêncio por favor.

Laure soltou uma ultima risadinha e então deixou Jack falando sozinho. Ele logo se calou também. Todos olhavam para Penny, esperando que ela começasse a falar. E foi oq aconteceu.

- Obrigado. Bem... Eu gostaria de começar com o caso de Katherine, se nao se importarem.

Todos assentiram com a cabeça. O nervosismo tomou conta de mim. Por impulso, levei a mão à mão de Leo e a segurei. Ele olhou para mim com a testa franzida. Deve ter percebido o quão assustada eu estava, pois voltou a olhar para Penny, ainda segurando minha mão. Aquilo realmente ajudou. Eu fiquei um pouco mais calma e prestei atenção no que Penny falava.

- Como todos sabem, essa garota, Katherine, foi encontrada perdida no meio do nada, durante nossas trilhas de encontro. Hoje mesmo, ela começou seu treinamento. Mas, não poderemos mantê-la conosco por muito mais tempo sem sabermos de fato o que aconteceu. Então, eu proponho que tiremos todas as nossas dúvidas sobre ela hoje.

Todos olharam para mim. Penny prosseguiu, olhando para mim.

- Algum problema para você, em responder nossas perguntas?

Seu tom não indicava ameaça, mas sim, ela queria saber se eu permitiria.

- Nenhum. Não tem problema nenhum.

Ela sorriu.

- Certo, então.

Ela estalou os dedos e a porta se abriu. Um homem usando roupas brancas entrou e posicionou uma cadeira no meio do U. Ele logo deixou a sala com a mesma rapidez com que entrou.

-Sente-se. -disse Penny, apontando para a cadeira que o homem deixara ali. Soltei a mao de Leo e me levantei, ouvi-o sussurrar "boa sorte" e então me direcionei à cadeira. Sentei-me e olhei para Penny. Ela abriu um sorrisinho discreto.

- Vamos Começar. Katherine, qual o seu nome completo?

- Katherine Milles McLean

- Quantos anos você tem? - Laure perguntou.

- 15...

-E, quando faz aniversário? -Ela continuou

- 4 de Setembro.

Eu não entendia porque aquilo era importante, mas não perguntei. Eram as mesmas perguntas que Leo me fizera. Foi a vez de Jack tirar sua dúvida.

- Como chegou aqui?

Eu não sabia como iria explicar aquilo, porque simplesmente eu não sabia. Falei a verdade.

- Eu não sei.

Todos pareceram confusos. Penny perguntou.

- Você simplesmente acordou aqui?

- Na verdade não...

Contei a história toda, desde a hora em que fui até a cozinha de madrugada até a parte em que eu apareci ali.

- Interessante... Você disse que você simplesmente veio parar aqui depois de furar o joelho? -perguntou Penny

- Sim...

- Ah sério isso? Vamos acreditar em uma história fajuta dessas? - disse Laure. Ela parecia ser a única que não acreditava. Todos ficaram pensativos, como que analisando os fatos, ate que Penny resolveu oq dizer.

- Temos que admitir que é uma história bem irreal, mas ela não parece estar mentindo.

- E não estou! -Essa frase escapou de minha boca. Penny me olhou com uma cara de "cala a boca ou te dou um soco"

- Não estamos falando com você. - Laure reprimiu. Ao perceber que eu fiquei um pouco perdida, por não saber o que dizer ela abriu um sorrisinho discreto. Acredito que só eu tenha visto. Eu fiquei com raiva. Ela estava rindo da minha cara, e isso me irritou muito. Silenciosamente ela levou a mão à boca fazendo sinal de silêncio, como se quisesse que eu guardasse um segredo, ainda sorrindo discretamente. Mesmo que eu estivesse me arriscando eu não iria deixar isso passar.

- Não estão falando comigo, mas estão falando de mim! Estão me julgando! Mesmo que não acreditem, essa é a verdade! Eu não tenho como provar isso, mas pelo menos deviam tentar ficar no meu lugar! Vocês não entendem! Vocês não sabem oq é ser julgada e quererem que você fique de boca fechada enquando dizem que você é uma mentirosa! - olhei para Laure nessa frase

- Eu posso ser muitas coisas, mas mentirosa é uma coisa que eu nunca vou ser! Vocês podem fazer qualquer coisa comigo. Eu não tenho defesa, e nem conseguiria vencer nenhum de vocês em uma luta. Vocês podem me punir, por falar na hora errada, mas eu não tenho a mínima vontade de ficar parada e calada enquando debocham de mim. Eu disse a verdade, acreditem ou não. Tudo que eu quero no momento é poder sair logo desse lugar! Deu para entender? - gritei

Todos os olhares estavam voltados para mim. Eu tinha a impressão de que Laure iria pular em mim e me matar a qualquer momento. Jack segurava seu braço com força, como se pressentisse a mesma coisa. Todos pareciam surpresos. Meus olhos se encontraram com os de Leo e pela sua expressão, tive vontade de sair correndo daquele lugar. Isso ia dar problema. O silêncio tomou conta.

- Penny, não admito que uma novata qualquer nos desafie dessa maneira e fique imune. Mas também acredito que a violência não é o caminho certo. Eu acho que deveríamos nos voltar para o assunto principal da reunião. Continuemos o interrogatório ao final. Que tal? - propos Laure.

Dava para ver que se nós duas estivéssemos sozinhas ela já teria pelo menos me estapeado. Quando eu estava com Leo, no dia da batalha com Kai, ela já me dissera que é vingativa. Automaticamente já fiquei preocupada. Me levantei da cadeira rapidamente e me sentei ao lado de Leo. Dessa vez, foi Leo que levou sua mão até a minha, mas ele somente deixou um pequeno papel em minha mão, e afastou-a novamente. Li o que estava escrito, com cuidado, para que ninguém visse.

"Eu sinceramente acho que você quer morrer. Você está dando a todos, pelo menos um motivo, para quererem te matar. Nao preciso mais te ajudar na mira das facas, mas eu PRECISO te ensinar a ficar de boca fechada. Eu sei que você se sente injustiçada nesses casos, mas não pode sair falando o que pensa. Ainda mais quando o que você pensa vai contra o que os outros acreditam. Contra o que NÓS acreditamos. Então, boca fechada, OK?"

Ele também achava que eu estava errada. Mas afinal, eu não podia
culpá-lo. Eu sabia que na verdade eu realmente não deveria ter dito nada daquilo, mas vamos combinar, a história das facadas... Aquilo foi sem querer. Pelo menos tinha dominado a situação. Ou pelo menos é o que eu acho... E além do mais, Leo havia me ajudado em tudo o que podia. Eu não tinha porque de brigar com ele por ele tentar me proteger. Eu sabia que se eu conseguisse me controlar, como Leo queria, eu teria MUITO menos chance de deixar os outros com raiva. Mas, o problema, é que também era o que Laure queria. Era o que Penny queria. Era o que todos os líderes queriam. Sabia que alguns deles queriam isso para me proteger. Como Leo e Jack. Eu não sabia porque, mas confiava em Jack. Eu havia simpatizado com ele desde o dia em que o conheci. Ele havia se oferecido para me levar ao chalé de Penny, no dia em que cheguei. Ele era animado e divertido. Claro, tirando a parte de me chamar de ruiva. Mas de alguma forma, eu acreditava que ele era alguem em que eu podia confiar. Logo, o restante dos líderes, eu não tinha tanta certeza. Penny. Ela também havia me ajudado bastante desde que eu havia chegado, mas mesmo assim, ela tinha que olhar pelo lado dos outros líderes também, e o lado de Laure eu já sabia que não era boa coisa para mim. O de Kai, eu simplesmente não tinha ideia do que era. O de Jack, eu sabia que não me faria mal algum, muito menos o de Leo. Mas e o dela? Será que Penny pensava como Laure? Será que pensava como Leo? A quem ela dava razão? Ou ela não dava a nenhum deles?
Eu não tinha como saber.
E era isso o que me preocupava.